Ponto Cru: Hari Chapagain

Ponto Cru

July
2025

Ponto Cru: Hari Chapagain

Ponto Cru é uma rubrica que explora primeiro o lado pessoal e depois o profissional dos seus convidados. O convidado que se segue é Hari Chapagain, chefe do Oven, em Lisboa, o primeiro restaurante nepalês em Portugal recomendado pelo guia Michelin.


Se fosses um ingrediente, qual seria e porquê? 

Coentros! É um ingrediente fresco, complexo e que tem o poder de adicionar um toque inesperado a qualquer prato.


Qual é a tendência gastronómica atual que menos te agrada e porquê? 

A que menos gosto é a comida feita só para as redes sociais, cheia de truques. A criatividade é essencial na cozinha, mas quando a apresentação se sobrepõe ao sabor ou à sustentabilidade, a alma da comida desaparece. A comida deve ser memorável por ser deliciosa e significativa, não só por parecer bonita num scroll.


Quando vais a um restaurante de fast food, qual é o teu pedido habitual? 

Quando me apetece fast food, nada bate uma tigela quente e fumegante de ramen — uma comida de conforto, cheia de umami e rápida!



O que gostas de cozinhar quando estás em casa, longe do trabalho? 

Em casa, gosto de cozinhar um tradicional khana set nepalês, uma refeição reconfortante que privilegia equilíbrio e sabores. Normalmente inclui dal (sopa de lentilhas), bhat (arroz), tarkari (caril de legumes) e achar (picles). A simplicidade do dal com arroz, combinada com a riqueza do caril e o toque ácido do achar, traz um grande sentido de lar. É a refeição perfeita para relaxar e conectar com as minhas raízes.


Que música não pode faltar na playlist da tua cozinha? 

Gosto de misturar música clássica nepalesa para um ambiente calmo e focado ao preparar pratos complexos, e jazz funky para manter o ritmo enquanto corto e mexo. É tudo sobre encontrar o equilíbrio perfeito entre ritmo e alma para manter a energia alta e os sabores ainda mais intensos.



Qual foi o maior elogio que já recebeste por um prato que criaste? 

O maior elogio foi quando um cliente de Angola viajou até Portugal com um único objetivo: provar o ‘Lamb Shank Biryani’ do Oven. Ele não só adorou, como pediu para levar um pouco para casa. Momentos assim lembram-me do verdadeiro poder da comida para criar memórias duradouras.



Qual é o som mais satisfatório na cozinha para ti? (

O som mais satisfatório é o crepitar dos ingredientes a cair numa frigideira quente. Esse som é o sinal de que a cozinha está a ganhar vida, é o momento em que os ingredientes crus se transformam em algo verdadeiramente delicioso.


Se pudesses reivindicar a criação de um prato da cozinha portuguesa ou mundial, qual seria? 

e pudesse criar um prato, faria uma versão do Bacalhau à Brás com um toque pessoal que reflete as minhas raízes nepalesas. Infundiria o prato com especiarias nepalesas como Timur (pimenta de Sichuan) e curcuma, para trazer uma profundidade única de sabor, e terminaria com um fio de chutney de tamarindo para um toque ácido. Esta fusão junta o conforto de Portugal com os sabores intensos e perfumados do Nepal.



Que restaurante tradicional português acreditas que merecia uma estrela Michelin?

O Canalha faz uma ponte brilhante entre passado e presente, transformando pratos tradicionais portugueses com técnicas modernas e refinadas — certamente digno de Michelin.



Qual é o teu maior sonho enquanto chefe de cozinha? 

O meu maior sonho é explorar as infinitas possibilidades da comida, misturando sabores tradicionais com o meu toque único. Quero pegar nos pratos amados do mundo e criar experiências de fusão que surpreendam e encantem as pessoas. Combinando a essência das receitas ancestrais com ingredientes e técnicas inesperadas, pretendo tornar a comida tradicional fresca, excitante e acessível a todos.

Autor:

Manja Newsletter