A cozinha é um espaço de liberdade. É o lugar onde a criatividade pode expressar-se sem receios, onde ingredientes combinam-se para criarem menus que refletem culturas, histórias e identidades. Cada prato é uma manifestação de escolhas livres, um microcosmo do que significa viver numa sociedade onde as pessoas têm o poder de inovar, experimentar e partilhar. Essa liberdade culinária, no entanto, não existe de forma isolada. É fruto de uma sociedade livre, que tem o direito de explorar, de arriscar e de crescer. Assim como um chefe que se limita aos mesmos ingredientes impede a evolução das suas criações, também uma sociedade que restringe a sua liberdade sufoca a criatividade e a inovação. Por isso, a liberdade em qualquer esfera – seja na cozinha ou na vida pública – não deve ser considerada garantida. Vivemos tempos complicados, com regimes autoritários que se baseiam na desigualdade entre as pessoas a ascenderem ao poder e a representarem uma grave ameaça à liberdade humana. Políticos que alimentam divisões e exploram o medo para consolidar o poder são inimigos da liberdade. Ao deslegitimar direitos iguais e universais, criam um ambiente de opressão, silenciamento e controlo. A liberdade, enquanto essência da dignidade humana, é sufocada quando os seres humanos são reduzidos a categorias hierárquicas, despojados das suas vozes e autonomia. O autoritarismo, ao usar a desigualdade como ferramenta de manipulação e exclusão, mina os pilares da democracia e do respeito mútuo, ameaçando não apenas os direitos individuais, mas também a própria estrutura de uma sociedade justa e pacífica. A liberdade na cozinha reflete também a liberdade de um povo. Quando ela prospera, alimenta mais do que corpos: nutre espíritos, culturas e sentidos de comunidade. Proteger essa liberdade, em todas as suas formas, é essencial para se conseguir resistir aos retrocessos que os radicalismos tentam impor. Um povo que preserva a diversidade das suas vozes – e dos seus sabores – mantém-se verdadeiramente livre.
Assinar