Muito se pode escrever sobre a importância da ética na alimentação. Uma discussão essencial, não apenas para o conhecimento relacionado com a alimentação em geral, mas também pela necessidade de se conhecerem alternativas diante de um cenário de redução de recursos naturais. Como é o caso deste mundo em que habitamos. Repensar a relação que estabelecemos com o alimento e contribuir para que haja uma mudança na postura da sociedade frente às suas escolhas alimentares deve ser uma prioridade. Tudo começa com uma decisão consciente. Essa decisão passa, seguramente, por perceber como funcionam as multinacionais das refeições rápidas e do agronegócio industrial e o seu estilo de vida, onde é tudo gigante, há muito desperdício e pouca preocupação com a origem dos alimentos. Pensar na ética relativamente à alimentação é propor uma filosofia de vida que valorize o ato de nutrição, ensine os prazeres dos sabores dos alimentos, reconheça as suas origens, os seus produtores e respeite a biodiversidade e o ritmo das estações. Diria que, antes mesmo dessa decisão consciente, há a necessidade de informação. É fundamental que procuremos estar bem informados sobre o que chega às nossas mesas, conhecendo o ciclo do alimento, inclusive cada detalhe desse ciclo, valorizando sempre alimentos orgânicos, de produção local e de comércio justo. É imperativo, portanto, apoiar um novo modelo de agricultura, menos intensivo, mais saudável e sustentável, com base no conhecimento de comunidades locais. Acredito que a informação (e educação) é atualmente a ferramenta mais eficiente neste processo de consciencialização. Todos temos o direito ao prazer de comer bem e, consequentemente, a responsabilidade de defender a herança culinária, as tradições e culturas que isso tornam possível. Podemos e devemos ser parte do processo, atuando no mundo como um todo, e, deste modo, fazer não só as nossas escolhas individuais, mas contribuir também para as práticas coletivas, salvando vegetais, frutas, grãos e outros produtos alimentares de serem extintos. Salvando futuras gerações. As palavras de Michael Pollan, professor, jornalista, e influenciador no mundo do alimento, fazem sentido. A maneira como comemos representa o compromisso mais profundo que podemos estabelecer com o mundo natural. «Diariamente, ao comermos, fazemos a natureza tornar- -se cultura, transformando o corpo do mundo nos nossos corpos e mentes. A agricultura fez mais para mudar a forma do mundo natural do que qualquer outra coisa que os seres humanos tenham feito, tanto no que diz respeito às suas paisagens, como à composição da sua flora e fauna. […]. Comer põe-nos em contato com tudo aquilo que compartilhamos com outros animais, e com tudo o que nos mantém à parte. É algo que nos define.» (Pollan, Singer & Mason, 2007, p.18). Por último, relativamente à alimentação, quero ainda alertar para duas questões éticas e moralmente relevantes: a importância de se valorizarem os trabalhadores rurais, com pagamentos justos pelo seu trabalho, e acabar de vez com o sofrimento de animais na produção de determinados alimentos. E muito mais se poderia dizer. A revista diz!