
António Queiróz Pinto cresceu entre a cozinha e a sala da histórica Pensão Borges, em Baião. Estagiou em cozinha na Casa da Calçada e mais tarde teve uma experiência no Dos Cielos, em Barcelona. De volta a Portugal em 2014, começou a sua maior aventura: chefiar o restaurante de Tormes, na Fundação Eça de Queiroz. Em 2024, abriu o seu primeiro restaurante a solo, Taberna Lura, em Baião. Recentemente, venceu o Troféu Portugal, um concurso de cozinha focado na gastronomia portuguesa e que promove a utilização e promoção da culinária e produtos regionais.
Falámos com o chefe para saber mais sobre a vitória no concurso e o que se segue para o futuro.
O que sentiste ao seres distinguido como vencedor do Troféu Portugal 2025? E, sobretudo, numa competição que distingue regiões — no caso da tua, Porto e Norte?
Vencer o Troféu Portugal foi, sem dúvida alguma, algo que me deixou muito orgulhoso. Obviamente, a nível pessoal, porque é também o trabalho que faço que está aqui representado. Mas, sobretudo, pela região que representei — Porto e Norte, em especial Baião, que é a minha terra. A terra que me viu nascer, onde trabalho, onde tenho o meu restaurante e que quis levar até Santarém para mostrar a riqueza que temos nos nossos produtos, nas nossas tradições e nas nossas gentes.
Que momentos consideras ter sido os mais desafiantes ou exigentes ao longo da competição?
Um dos momentos mais desafiantes foi, sem dúvida, um percalço que tive com o forno. Na verdade, estamos ali para mostrar aquilo que fazemos no dia a dia, mas em condições diferentes, noutro local, com toda a gente a ver — e isso torna tudo mais complicado. Contudo, com a ajuda do júri e as condições que tínhamos, consegui dar a volta, superar as dificuldades e apresentar aquilo que pretendia. Fiquei muito feliz, porque o resultado final foi exatamente o que esperava.
O Troféu Portugal é conhecido por unir tradição e modernidade. De que forma o prato que apresentaste reflete essa dualidade e, ao mesmo tempo, a tua identidade enquanto cozinheiro?
É muito mais tradicional do que moderno, na verdade. Contudo, é um prato que conseguiu sobrepor-se ao tempo — ainda hoje há quem faça centenas e milhares de quilómetros para vir até Baião comer o anho assado. Por isso, não poderia levar outra bandeira senão esta. É algo que vejo ser feito desde sempre no restaurante dos meus pais, que me inspiram e fazem com que hoje seja quem sou. Muito graças a eles também.
Partilha a história do prato que escolheste para a prova. O que o inspirou e por que motivo decidiste apresentá-lo nesta competição?
O prato que apresentei foi escolhido sem hesitar, porque o anho assado com arroz de forno representa a minha vida, a vida da minha família e a de muita gente desta região. É a riqueza dos pastos, o trabalho dos pastores e aquilo que traz pessoas à minha terra — a gastronomia. O anho assado é o ex-líbris da nossa terra e algo que nos enche de orgulho. Conseguir levá-lo a um concurso e vencer foi ouro sobre azul.
Este tipo de desafio vai muito além da técnica — envolve também emoção, pressão e resistência mental. Como conseguiste manter o foco e gerir esse lado mais emocional?
Estou mais velho, mais maduro, do que quando participei noutros concursos. Já tinha ido ao Chefe do Ano, que é o mais exigente de Portugal. Ou seja, estava mais preparado para o que vinha e já sabia mais ou menos como funcionam os concursos. É verdade que a pressão e o nervosismo estão sempre lá — mas só até começar a prova. Depois, é desfrutar e aproveitar o momento.
Como defines a tua visão da cozinha? Que estilo procuras seguir e que valores te guiam quando cozinhas?
O meu estilo de cozinha é, sem dúvida, o tradicional português. É a cozinha que sempre vi fazer e que quero continuar a preservar, para que não se percam as nossas tradições e a nossa história. Defino-me como alguém que gosta de comer e, sobretudo, de valorizar o que é nosso. Gosto de trabalhar com produtos locais e sazonais, mostrando que, mesmo sendo do interior, conseguimos criar coisas fantásticas com ingredientes simples e autênticos. Embora mantenha sempre o traço original das receitas, procuro dar-lhes um toque de inovação, respeitando a essência da tradição.
Voltando aos teus primeiros passos, quem ou o que despertou em ti a paixão pela cozinha? Cresceste num ambiente de restauração…
Como já referi, o facto de ter nascido num restaurante fez com que ganhasse este “bichinho” pela restauração e pela gastronomia. Mas, acima de tudo, o que mais me move é o prazer de servir as pessoas. Gosto de ter gente em casa, de receber — e não há lugar melhor do que um restaurante para mostrar a nossa dedicação, a nossa qualidade e a vontade de fazer bem. Ver alguém feliz no final de uma refeição é algo que não tem preço. Os meus pais foram, sem dúvida, o elo principal para que hoje seja feliz a fazer o que mais gosto: cozinhar.
Sempre tiveste ligação a este universo, mas como se deu a passagem para a cozinha profissional?
A passagem para a cozinha profissional aconteceu depois de concluir o secundário, quando decidi seguir um curso de Gestão Hoteleira. No entanto, o meu pai — que já trabalhava na área há muitos anos e continua ligado à restauração — aconselhou-me a começar por um curso de cozinha. Disse-me que quem está na sala deve saber o que está a servir e que é fundamental compreender o que se faz na cozinha para o transmitir melhor aos clientes. Assim fiz, e o que é certo é que me apaixonei pela cozinha. Apesar de continuar a gostar muito da parte da gestão, descobri que é atrás do fogão que me sinto verdadeiramente realizado. Os estágios que fiz ajudaram-me a abrir horizontes e a sonhar mais alto. Mais tarde, surgiu o meu próprio projeto, que vejo como o culminar de muita persistência e dedicação. É algo que quero continuar a fazer — servir bem e, ao mesmo tempo, atrair mais gente à minha terra.
E olhando em frente, que objetivos ainda queres alcançar? Sonhas criar um novo projeto e/ou solidificar o Taberna Lura?
Todos nós temos sonhos, e eu identifico-me totalmente com a frase “o sonho comanda a vida” — aplica-se a mim a 100%. Naturalmente, quero continuar a estruturar e consolidar o projeto Lura, tornando-o cada vez mais coeso e consistente. No entanto, nunca deixo de sonhar com a possibilidade de abrir um novo espaço, talvez noutro local.
É um sonho, sim, mas prefiro encarar a vida passo a passo, com calma e sem pressa. Tudo a seu tempo.
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