
Ponto Cru é uma rubrica que explora primeiro o lado pessoal e depois o profissional dos seus convidados. A convidada que se segue é Lara Figureiredo, chefe de pastelaria do MACAM, em Lisboa
Se fosses um ingrediente, qual seria e porquê?
Seria uma cebola roxa — não só pela cor, mas pelas camadas. Sinto que tenho várias camadas, umas mais relevantes do que outras, mas o conjunto de todas elas — a pastelaria, a agricultura, a criatividade e a espiritualidade — forma aquilo que sou.
Qual é a tendência gastronómica atual que menos te agrada e porquê?
Os fermentados. Reconheço os seus benefícios para a saúde e adorava gostar, mas é-me muito difícil. É um universo pelo qual nunca tive grande interesse, devido aos sabores — muito ácidos e avinagrados, que não entram na minha escala de paladar. Em 100%, consumo 0,5%, e apenas em experiências gastronómicas.
Quando vais a um restaurante de fast food, qual é o teu pedido habitual?
Sou muito clássica, hambúrguer sempre com bacon e umas boas batatas fritas. O restaurante Wishbone, em Lisboa, foi recentemente uma boa surpresa.
O que gostas de cozinhar quando estás em casa, longe do trabalho?
Tenho opostos, no inverno adoro fazer sopa. Já no verão, grelhados. Apenas faço sobremesas duas vezes ao ano.
Que música não pode faltar na playlist da tua cozinha?
Neste momento, Semilla Solar da Huaira.
Qual foi o maior elogio que já recebeste por um prato que criaste?
É difícil escolher, porque faço as sobremesas para tocar no coração. Mas talvez “foi a melhor sobremesa gastronómica que já comi” ou “faz-me lembrar quando ia ao mel com o meu avô”. Vivo para proporcionar essas experiências.
Qual é o som mais satisfatório na cozinha para ti?
O silêncio de uma cozinha cheia, com pressão e concentração.
Se pudesses reivindicar a criação de um prato da cozinha portuguesa ou mundial, qual seria?
O Pampilho, o meu bolo tradicional preferido de Santarém. Para além do sabor e da tradição ribatejana, sabe-me a infância.
Que restaurante tradicional português acreditas que merecia uma estrela Michelin?
O Toucinho, em Almeirim, ou o Pica-Pau, em Lisboa. O Toucinho, fundado em 1962, mantém uma consistência exemplar desde então: a melhor Sopa da Pedra do mundo, as “caralhotas” — pão tradicional feito todos os dias em forno a lenha — e os pratos ribatejanos, autênticos e cheios de sabor.
Qual é o teu maior sonho enquanto chefe de cozinha?
Ter um projeto na Natureza, que una chefs, natureza e pessoas interessadas em (re)conectar-se com o mundo natural. Um espaço onde as sobremesas e o pão sejam confecionados nesse ambiente, com workshops e promoção das tradições antigas. Com mesas compridas, muitas árvores, boa comida, boas conversas e consciência — para uma comunidade mais unida, em amor.
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